Não é que o papel de vítima me assente bem, mas não camuflando a realidade eu sou uma vítima de violência doméstica matinal. E todas as manhãs, sensivelmente a meio da manhã, tenho vontade de dizer ao mundo o que me incomoda, o que se passou comigo, o que condiciona a minha existência humana.
"Olá o meu nome é Sara, tenho 25 anos, sou monogâmica há 4, e sou uma vítima de violência doméstica matutina. Sim podia ser vespertina, ou nocturna, mas não, é exclusivamente matutina. Não consigo deixar o meu companheiro porque ele ludibria-me e diz-me que vai ser diferente da próxima vez, que vai mudar.
Mas não muda é sempre o mesmo.
Eu sinto-me molestada, a minha auto-estima fica em baixo, sinto-me feia, mais velha e cansada. Há mesmo dias em que sinto que tenho 28 anos. Ele ainda não me bate mas tenho medo, insulta-me, berra comigo, trata-me com pouca dignidade, manda-me para baixo de Braga. Quero que esta situação acabe, mas não consigo ter controlo sobre a mesma."