Querido novo amor,
Não é a primeira vez que nos cruzamos, nem muito menos a segunda, a verdade é que durante a adolescência já tínhamos uma relação doentia, quer dizer agradavelmente doentia, agora temos qualquer coisa estranhamente doentia, não ao nível "50 shades of Grey"... ainda estou para perceber porque me compraste esse livro, não faz mesmo o meu género: "erotismo para solteironas inseguras", e submissão é cena que a mim não me assiste.
É de lamentar que a vida nos tenha unido, duas pessoas com assuntos mal resolvidos com anteriores amores, numa relação peculiar, sem grandes emoções, nem grandes promessas. Cada um com os seus fantasmas, desilusões, a bem ver vivemos com os fantasmas um do outro, eu com os teus, e tu com os meus. E por mais que queira romancear a nossa relação, seja só lacónica.
É de lamentar a minha instabilidade, e a tua sobriedade; a minha leviandade, e a tua precaução. Nós não temos quase nada em comum, tirando o facto de não querermos pensar muito na "nossa" (dita) vida... quer dizer, às vezes gostava de saber. Mas um rótulo traz pressupostos, e quem disse que não podemos saltar uma outra coisa mais convencional.
É de lamentar a minha falta de preocupação com o que nós temos, de ser mimada a ponto de te empurrar sempre que te aproximar de mais, por saber que vais voltar a tentar chegar um pouco mais perto, pelo menos por enquanto; de não cuidar de ti.
É de lamentar que como qualquer relação tenha gente periférica, que só atrapalha... e eu ter esta tendência natural para que não gostem de mim.
Não sei quanto mais tempo vamos aguentar, entre saídas para tomar café, e filmes e pipocas em casa, do meu silêncio, da minha necessidade de me aninhar em ti para dormir umas horas e depois ir embora, de combinarmos tudo em função dos teus horários, do teu mau humor passivo-agressivo, da minha teimosia em não querer que ninguém saiba de ti. Mas enquanto durar que seja melhor do que está ser... E que por daqui a adiante tu passes a ser realmente o meu novo amor.
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