Quando visito a minha avó, numa aldeia tipicamente beirã, e me deparo com pessoas que não me reconhecem, a pergunta que se impera é: "Olha lá és de que família?". A necessidade grupal desta gente passa pelo legado que a família a que pertence.
A mesma situação acontece em contexto diferente na mesma essência, quando a meio de conversas mais ou menos formais, nos perguntem: "Olhe o seu titulo é qual?" e mediante a resposta o tratamento fica condiciono por tal titulo, mesmo que o "dr." esteja desempregado ou a tirar mestrados (que é a mesma coisa que: "ok tenho qualificações e como ainda não tenho trabalho, vou investir em mais formação").
Toda uma sociedade que se reveste de cosmopolita similar ao universo adolescente, eu sei que isto da adolescência é um tema recorrente, mas é verdade, como se a sociedade tivesse de estar em tribos urbanas, e que cada um tem de actuar, vestir, falar de maneira de acordo com o seu rótulo. Como se um trolha não pudesse apreciar musica clássica, ou distinguir ovas de esturjão de ovas de salmão.
Há coisas que nem a ruralidade ou o cosmopolitismo compram ou conseguem associar a si mesmo como característica exclusiva, como educação, civismo, bom senso, dignidade. A educação será sempre a chave mestre para a boa conduta social, que os ditos cosmopolitas renegam com uma arrogância selectiva.
Admito que o rotular de pessoas possa ser mais cómodo e fácil, mas quantas vezes fomos injustos com terceiros por supor coisas sobre os mesmos, por sermos preguiçosos ao ponto de não querermos ver o que de facto se apresenta á nossa frente, e reformular o nosso quadro de convicções.
A ruralidade em nós está como a poeira no vento, somos mesquinhos, falsos moralistas, agarrados a uma tradição obsoleta quando nos convêm, enfim somos rurais de norte a sul. E traz uma versão actualizada, como verniz que nos estala em situações tão corriqueiras como o perguntar de quem são os outros.
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