sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Alprozolam + Fluoxetina (ep. 2)

            Já não sei se sou sozinha ou simplesmente só, se quero ser prática ou pensativa, ou se o sou de facto.

        Aumentaram a minha medicação, dizem que não querem correr riscos porque com a vinda do outono as pessoas ficam mais tristes, têm medo que me suicide, chamaram-lhe "pensamentos maus", que por momentos associei a dar uma tareia a toda a gente que come pipocas e comenta filmes no cinema. De facto eles não me conhecem, fazem caras de que analisa sabe-se lá o quê, escrevem pontualmente umas merdas e "vai lá para casa tomar comprimidos e volta daqui a 15 dias"! A verdade é que eu gosto da chuva, do frio, de andar com chapéu atrás... não sou do contra, sou mais pró-diversidade! E além disso eu tenho um creme novo!

          Tenho medo dessa gente, é gente que me invade a privacidade como se importasse comigo, como se fossemos amigos... Não somos! Mas é essa ilusão de como se fossemos de facto que me chateia... Sinto o meu conforto mental comprometido. como se me abraçassem sem eu pedir, é quase uma relação de amor com o meu cérebro, e eu não pedi isso, eu não quero...

               Apelidei os meus comprimidos de on e off, tomo fluoxetina para me manter ridiculamente on e alprozolam para uma noite de sono off. Nem quero pensar nas dosagem que estou a tomar, lembro-me sempre de animais exóticos em transportadoras aéreas com destino a zoológicos em países ditos civilizados.

          Efeitos secundários, já os sinto a fluoxetina dá-me náuseas e perda de apetite, sinto-me fisicamente fraca, o alprozolam dá-me pesadelos, não que não os tivesse antes, mas agora não consigo acordar a meio da noite quando os tenho, e acordo com medo, a sensação de aperto no coração, e os músculos do corpo tensos. 

                  Quando menciono isso "ao homem da minha vida" (o psiquiatra) ele lá volta a notar mais umas merdas, que mesmo que espreite não percebo nada do que lá está escrito. Deve ser um dos requisitos para ser médico: escrever como se fossem galinhas a raspar o chão... são desenhos abstractos bonitos, dignos de galerias de arte de um país que os valorize.

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